sábado, 19 de fevereiro de 2011

Na Marginal


Todas as quartas feiras, lá ia ele, de manhã ou de tarde, conforme a maré, carregado com a cesta dos apetrechos e a mochila com umas sandes e uma garrafinha de vinho, pescar para o paredão da Marginal.
Era o dia da sua folga e aproveitava para se dedicar àquele entretem de carreto e cana. Como era dia de semana, o paredão nunca estava tão preenchido como ao sábado ou ao domingo em que eram tantas as linhas dentro de água que chegavam a enredar-se umas nas outras e, se algum peixe tinha mordido o anzol, não se sabia muito bem a quem pertencia.

Morava ali, por Paço d’Arcos e, na bicicleta, fazia o trajeto rapidamente pois, também a carga era leve tanto à ida como à volta. Se tivesse a sorte de apanhar alguma boga ou tainha não seria o seu peso que lhe iria dificultar o regresso. Mas, ultimamente, o peixe escasseava e a quarta-feira chegava ao fim sem que houvesse uma escaminha dentro da alcofa.

Para quebrar o silencio daquelas horas de encantamento junto ao Tejo valia-lhe a tagarelice do amigo com o mesmo gosto de, sentado no paredão da Marginal, olhar sem cessar a boia que numa aquática dança suave, esperava o picar do peixe para depois começar num frenético sobe e desce da linha da água. Então, era ouvi-los a rir alto e a falar com o pobre do ser que se debatia com o anzol a rasgar a boca, num saracotear desesperado para se soltar e voltar ao meio onde pertencia – a água do Tejo.

Quando o tempo da pescaria terminava, mesmo sem peixe pescado, voltava para casa feliz e contente e o resto da semana era mais fácil de viver.
com imagem da net
texto de Benó

2 comentários:

Justine disse...

Uma história doce e bem contada, Benó. Ainda algum dia hei-de perceber o prazer da pesca:))))

Graça Pires disse...

Uma história linda, amiga Benó, a mostrar-nos que não é preciso muito, a certas pessoas, para estarem bem com a vida.Basta-lhes a simplicidade...
Um grande beijo.