quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A MINHA PRIMEIRA ROMÃ


Vou abrir uma romã Dia de Reis!
Juntar-nos-emos à sua volta e comendo os seus bagos festejaremos a VIDA!


Este fruto composto por lindos bagos vermelhos tem como simbologia a ORDEM, RIQUEZA, FECUNDIDADE e, por isso vou comê-la dia 6 deste mês com um pouco de açúcar e vinho do Porto, como todos nós cá em casa gostamos.
Espero que a sorte me proteja e a todos os meus neste ano bissexto de 2008.
Que todos os meus amigos e inimigos sejam felizes com a concretização dos seus desejos.

Tenho várias romãzeiras na horta, mas este ano só uma deu fruto. Só um, único e singelo e sempre que lá passava, junto à pequena árvore, dizia para comigo: “Tenho de apanhar esta romã antes que um vento mais forte a ponha ao chão". Pois a romãzinha lá estava ela sozinha, presa à mãe, corada e balouçando-se ao sabor da nortada e, mesmo com a forte ventania que antecedeu o Natal e as chuvas, manteve-se firme no seu raminho e não caiu, pelo que, decididamente resolvi ir buscá-la para casa. As minhas crianças também já tinham mostrado o seu desejo de provarem o primeiro fruto daquela árvore ainda pequena, pouco mais alta que eles mas com umas flores tão bonitas de cor vermelha e com um fruto tão original.

Transpus a pequena cancela que separa o jardim da horta, munida de uma tesoura e de uma cestinha pequena que a colheita também o iria ser.
Ao avistar a pequena romãzeira reparei, que o vento já tinha feito das suas, pois toda ela já se encontrava despida de folhas, com os seus pequenos braços erguidos ao céu como que a clamar para que o vento invisível, mas persistente, não lhe arrancasse aquele filho que ela gerara e desenvolvera com a protecção da sua folhagem. Mas a minha romã ainda lá se encontrava toda rosada, com a sua coroa bem aberta pendurada para o chão, à minha espera para, duma tesourada certeira e firme, a salvar daquela ventania forte que a ela, como a mim, deixava nervosa e tonta.

Com a tesoura que levava cortei o fruto e coloquei-o dentro da minha cestinha.

Vim para casa, satisfeita pelo contentamento que iria proporcionar às minhas crianças ao verem que o seu pedido tinha sido satisfeito.

Mas, de repente, senti que, no fundo do meu coração, a alegria não era completa pois, lembrei-me dos filhos arrancados às mães, dos braços abertos erguidos ao céu numa súplica muda para o regresso de alguém que partiu sem querer…lembrei-me…lembrei-me.. que apesar de salvar a romãzinha da intempérie, talvez a árvore-mãe não ficasse muito satisfeita por lhe ter roubado o seu filho único.
Para que a vida continue vou guardar uns quantos bagos que semearei e talvez nasça uma nova árvore que baptizarei com o nome de “Rainha”, que depois plantarei junto à romãzeira que este ano me deu este fruto tão bonito. Daqui a uns três ou quatro anos terei o prazer de colher o primeiro filho da árvore por mim plantada neste ano bissexto.


“Abre a romã, mostrando a rubicunda cor,
com que tu , rubi, teu preço perdes…”
Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, IX, 59

7 comentários:

O Árabe disse...

Não sei se vais acreditar, mas jamais provei uma romã. Entretanto, tenho a certeza de que ficará mui bela a romãzeira que com essas sementes irás plantar... :)

Judite Pitta disse...

Que linda a prosa! Mas podemos ver o "arrancar o filho à mãe" de outra forma mais positiva:
"Chegou a hora do filho partir para o seu destino que neste caso será fazer felizes e satisfeitas algumas bocas carentes do seu delicioso sabor"
E com esta me vou com os desejos que a româzinha lhe faça muito bom proveito...

Pedro Ventura disse...

Obrigado pela visita, gosto do seu recanto e adoro Pintura, vai fazer parte dos meus "Sites Amizade", volte Sempre...!

Beijos

risonha disse...

benó, será que posso ir aí comer um romã amanhã? (sem querer até rimei)
é que eu gosto de romãs, mas não tenho a mínima pachorra para as descascar e separar os bagos, se a benó já os tiver separados com o açucar e o tal vinho do porto, será ouro sobre azul.. eh eh eh
lá em casa quem é doido por romãs é o Sr. Risonho, e eu aproveito quando ele as está a descacar para ele, roubar alguns bagos para mim (o que me faz ganhar, de vez em quando, umas palmadas nas mãos...)

O Profeta disse...

E a viagem começa
Sem rumo nem distância
Serei timoneiro de alva barca
Pelo rumo da tua lembrança

Mar de sonhos mil
Oceano de tanta contradição
A ternura invade o caminho
Que leva ao teu coração


Bom fim de semana


Doce beijo

vieira calado disse...

Lembro-me bem que, em miúdo, havia sempre romãs que eram guardadas para as Festas.
Fez bem recordar-nos, hoje que estamos culturalmente colonizados.

Beijinhos

Maré Viva disse...

Mais uma história bonita, repleta de sensibilidade. Como é bom conservamos as tradições e termos ali à mão uma romãzinha escarlate a pedir para ser colhida...que possa saborear cada bago com prazer e harmonia.
Um beijinho.