quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O VESTIDO AZUL



imagem da net

Como num RENASCER da sua própria infância, a mãe tinha-lhe comprado um vestido NOVO. Era azul, da cor dos seus olhos, com saia pregueada e mangas de balão.
A menina sentiu aquela oferta maternal como uma DÁDIVA do céu. Apesar de ainda pequena na idade, era crescida no entender e sabia que havia dificuldades em casa e aquela despesa de luxo, certamente, tinha exigido muito sacrifício dos seus pais.
Apesar disso, também era feminina e sentia-se muito feliz e contente por estrear um vestido. E tão lindo que ele era!
No seu pequenino coração, estes sentimentos obrigavam-na a andar num SALSIFRÉ inquieto até chegar a hora de o vestir e poder mostrá-lo à avó que morava na rua de trás.
O céu estava LIMPIDO e ela iria, numa corrida, ouvir aquela FÁBULA da raposa e do corvo escrita no livro grande, guardado com PAIXÃO no armário da sala onde ela, na sua pequenez, ainda não alcançava.
A mãe recomendara-lhe, de dedo no ar e com SINGULAR veemência, para não se demorar no caminho e nem pensar sujar o vestido.
O trajecto era curto, é verdade, mas um SUPREMO desejo de correr e saltar por cima daquele ESCAGANIFOBÉTICO monte de terra colocado estrategicamente no seu percurso, fê-la esquecer o seu QUERER de obedecer ao pedido da mãe.
Como um AUTENTICO barco à deriva, sem rei nem roque, salta aqui, pula acolá, ei-la que tropeça e fica estatelada, mesmo em cima do monte de terra vermelha, propositadamente, ali colocado no seu caminho.
A saia do vestido azul, como a cor dos seus olhos, tornou-se castanha, como os olhos de sua mãe.
Meu Deus… e agora??
Ia ouvir sermão e missa cantada pela certa e o seu coração pequenino começou a bater mais rápido.
Chegada a casa da avó mostrou, chorosa, o resultado do seu acidente e como certamente a mãe lhe iria ralhar.
Que se poderia fazer para remediar o infortúnio e o vestido voltar a ser azul?
E a avó, no seu saber feito de experiências de muitos anos com acidentes iguais, tratou do vestido da menina e deu-lhe a sua primitiva cor evitando que houvesse ralhetes e, talvez, umas boas palmadas pela desobediência.
esta foi a minha participação no 10ºjogo das 12 palavras.
mais textos poderão ser lidos aqui

7 comentários:

Graça Pires disse...

Um excelente conto a demonstrar como domina bem as palavras e os afectos... Um beijo, amiga Benó.

Elvira Carvalho disse...

E mais uma vez saíu-se muito bem.
Adorei a história.
Um abraço

Justine disse...

Saber contar, acrescido de muita ternura, fazem com que o teu texto seja lido com imenso prazer!Parabéns:))

Maré Viva disse...

Concordo com a Graça Pires, é realmente de artista, a maneira como escreve belas histórias, ainda que tenha que obedecer a "palavras mandadas"...
Ando sempre a prometer que um dia vou experimentar!

Um beijinho.

Judite Pitta disse...

É impressionante como com palavras obrigatórias conseguiste transcrever uma história com o seu quê de verídico, passadas que são algumas décadas... Parabéns mana és um prodígio! Pena é que te fiques só pelos blogs e não te atrevas a voos mais altos.

O Árabe disse...

Mais uma bela participação, Benó! Dá gosto ler o que escreves. :) Bom fim de semana.

anareis disse...

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