imagem da net.Vladimir Kush
As pessoas andavam apressadas pelos passeios e nem as mulheres se detinham frente às montras das lojas de moda que, atractivamente, ofereciam as últimas colecções para a estação fria.
No ar havia um agradável cheiro a castanhas assadas e o pregão "quentes e boas" ecoava nos seus ouvidos recordando os bons e já distantes tempos de estudante.
“Acabadas as aulas, saía do liceu carregando os livros um pouco pesados metidos naquela capa de couro com a efígie do Camões, que lhe fora ofertada num Natal.
No passeio em frente, havia dois olhos que os dela procuravam rapidamente.
Dirigiam-se um para o outro e depois dum beijo rápido em que as bocas mal tocavam, os seus ombros eram carinhosamente protegidos por um braço quente e protector.
Não era preciso dizer: Tenho frio ou Aconchega-me . Havia um entendimento reciprocuo nos seus olhares.
Ela sentia-se a rapariguinha mais feliz do universo enquanto se dirigiam para o autocarro, juntos um ao outro, comendo as castanhas assadas do pacote feito com as folhas das Listas Telefónicas, que deixavam os dedos sujos mas sabiam tão bem”.
O tempo passa veloz e, agora, eles caminham, apressadamente, lado a lado.
Ela tem as mãos, que já se desabituaram de descascar castanhas assadas, protegidas por luvas de lã, metidas nos bolsos do blusão duma marca “fashion”. O cachecol, de padrão inglês, envolve-lhe o pescoço bem protegido pela gola alta da camisola de caxemira e as elegantes botas compradas em Milão são insuficientes para a aquecer naquela tarde fria.
Ele acompanha-a no seu andar elegante e segue seguro e distante, surdo ao pregão, metido no seu blusão de cabedal, de "jeans" e sapatos DocMartens.
Os braços seguem o ritmo dos seus passos e o cigarro, seu companheiro inseparável, fumega na boca que já se esqueceu de como se beija com paixão,
-Está frio, diz ela, com voz ansiosa.
-Pois está, responde ele sem que os seus braços envolvam aqueles ombros carentes de calor.
O homem das castanhas continua no seu pregão "Quentes e boas!"
4 comentários:
Obrigada pela visita, adorei seu blog.Um grande beijo!
Triste, a tua história. Tão frágeis, as relações...
Assim é, amiga: quantas vezes, sem sentir abandonamos o melhor da vida. Boa semana, fica bem!
O tempo a desfazer os pequenos gestos de ternura...
Gostei deste texto a dois tempos.
Um beijo, amigas, Benó.
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