No Atelier ainda há desarrumação com cheirinho a "reveillon". Fitas, laços e papeis encontram-se por arrumar. A mesa de trabalho guarda ciosa os últimos desenhos feitos pelos meus infantes nestas férias de inverno e que esperam ser guardados nas pastas personalisadas para mais tarde recordar.
Por isso, de seara alheia , aqui vos deixo "A GAIVOTA" de Licinia Quitério:
A gaivota poisou,
desajeitada,
no fio da chaminé.
Como um anjo ancorado.
O seu manto molhado
a desenhar as cores
de um luto aliviado.
Não a ouves falar
da nuvem que abraçou
no liquido desejo
do amor ao despertar?
Que te importa a gaivota?
Cheira a sal e a névoa
e a destroços de barcos
encalhados.
Viaja desde sempre
entre as águas, as terras
e os ventos desgrenhados.
Conhece bem os homens.
Olhados lá de cima, diz
são pequeninos
e desengonçados.
Incansáveis na busca
de lugares que logo vão deixando,
desgastando.
Que te importa, não é?
Pássaro miserável,
corpo feito de peixe
ou pouco mais.
Com restos e detritos se conforta.
Só te faltava agora
gastar o fôlego a falar de um bicho
que se atreve a olhar-te,
o bico adunco,
uma pata encolhida,
a que sobrou da telha,
como quem chora,
pela tarde fora a piar, a piar...
Que te importa a gaivota?
E esse arrrepio de penas que te vestiu o olhar?
in "Da Memória dos Sentidos"
2 comentários:
Grande poetisa, a nossa amiga Licínia! Este poema é lindíssimo.
Beijo para ti e boas arrumações:)))
A Licínia é exímia nos poemas que faz. Eu sou fã. Este poema é maravilhoso.
"Que te importa a gaivota?
E esse arrrepio de penas que te vestiu o olhar?" Belíssimo culminar de um poemna todo ele muito belo.
Um beijo, amiga Benó.
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